segunda-feira, 10 de maio de 2010

Empresa enfrenta novo processo

Perícia da amma constata que resíduos de alimentos depositados por empresa em propriedade rural poluem o solo e contaminam animais

Vinicius Jorge Sassine

Suínos se alimentam de restos industriais que, segundo a Amma, estão impregnados de metais pesados

Um ano e meio depois do mau cheiro que invadiu pelo menos 25 bairros de Goiânia, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) voltou a abrir um processo contra a Unilever, indústria de alimentos e de produtos de higiene e beleza, localizada na Região Norte da capital. Uma perícia feita pela Amma na Fazenda Paraíso, no quilômetro 8 da GO-462, constatou que os restos de alimentos depositados pela indústria na propriedade rural contaminam o solo e o lençol freático com pesticidas e metais pesados. A contaminação se estende à criação de suínos na fazenda, alimentados com restos industriais impregnados de metais pesados, conforme a perícia da Amma.

Nos resíduos industriais destinados a cerca de 300 porcos criados no local foram encontrados alumínio, arsênio, chumbo, cromo e selênio, segundo testes feitos pela Amma. Já no lençol freático, o órgão municipal detectou índices de pesticidas de 9,58% e de cromo – um metal pesado – de 0,15 miligrama por litro. Pesticidas deveriam estar ausentes e o índice tolerado para o cromo é de 0,05 miligrama por litro, conforme os parâmetros adotados pela Amma. O gerente de Monitoramento Ambiental do órgão, Ramiro Cristiano de Menezes, detectou que parte dos resíduos industriais é carregada pelas chuvas para o Rio Capivara, um afluente do Rio Meia Ponte. “Isso ocorre bem próximo da captação de água para o consumo em Goiânia.”

A fazenda utilizada pela Unilever tem licença ambiental expedida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh). “A Amma pode multar por crime ambiental se eles estão em desacordo com a licença”, diz o presidente da Amma, Clarismino Pereira Júnior. Ele reconhece, no entanto, que são grandes as chances de a multa “cair na Justiça”, pelo fato de a licença ter sido expedida pelo Estado, e não pelo Município.

A Unilever foi considerada responsável pelo mau cheiro detectado na Região Norte de Goiânia em agosto de 2008. A Amma encontrou uma falha no sistema de tratamento dos resíduos industriais e multou a indústria em R$ 10 milhões pela infração de poluição atmosférica. O valor, considerado um dos mais altos já aplicados em Goiânia, levou em conta a extensão do dano provocado pela empresa. O mau cheiro se estendeu por até dez quilômetros, como constataram os técnicos da Amma.

O Município lavrou a multa, a Delegacia Estadual de Meio Ambiente (Dema) responsabilizou a indústria pelo mau cheiro e o Ministério Público (MP) estadual moveu ação civil pública contra a empresa, mas, até agora, a Unilever está desobrigada de pagar os R$ 10 milhões. Uma decisão liminar da Justiça estadual suspendeu o pagamento da multa e nomeou peritos para averiguar se a indústria realmente foi responsável pelo mau cheiro. A Agência Municipal do Meio Ambiente pediu a suspeição dos peritos nomeados pela Justiça. “Eles já trabalharam na Unilever”, diz o coordenador da assessoria jurídica da Amma, José de Moraes Neto.

Em nota ao POPULAR, por meio de sua assessoria de imprensa, a Unilever sustenta que a perícia realizada na época comprovou a inexistência de qualquer problema ambiental. “Pela confiança nos trâmites legais em curso, a empresa não entrará em mais detalhes porque o processo está sub júdice”, diz a nota. A Unilever afirma ainda que “trata 100%” dos efluentes gerados no processo produtivo da unidade em Goiânia.

http://www.opopular.com.br/noticias/14mar2010/cidades/11371-empresa_enfrenta_novo_processo.html

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